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Review: Red Hot Chili Peppers festeja o retorno de John Frusciante em “Unlimited Love”

O novo álbum marca o retorno da banda à sua melhor formação, revivendo os melhores anos de sua trajetória em um disco nostálgico

red hot chili peppers
Foto: Divulgação

Em 2009, o mundo da música foi pego de surpresa com uma das notícias mais inesperadas do momento: John Frusciante anunciava sua saída do Red Hot Chili Peppers depois de duas décadas. O guitarrista era uma das peças centrais do sucesso do grupo e uma de suas maiores forças criativas, e para a grande maioria dos fãs, era impossível imaginar o futuro da banda sem o seu dedo.

Ao longo dos últimos dez anos, as razões por trás de sua saída se esclareceram aos poucos: a vontade de trabalhar em projetos próprios, ter um alívio da rotina das turnês e, principalmente, o desgaste mental após anos dedicados ao quarteto. Em seu lugar, Josh Klinghoffer assumiu a guitarra, e apesar de nunca ter desonrado o posto e sempre ter tido o apoio da banda, o substituto jamais conseguiu agradar totalmente aos fãs por um simples motivo: ele não era Frusciante.

A saudade, entretanto, durou exatamente uma década. No fim de 2019, a banda se reaproximou de seu guitarrista original em busca de um retorno que, depois de tantas expectativas, finalmente aconteceu. A formação mais famosa do Red Hot Chili Peppers finalmente estava de volta, com a promessa de voltar às gravações para um álbum inédito e aos ensaios para uma nova turnê internacional. 

“Unlimited Love”, o 12º trabalho de estúdio do grupo, chegou ao mundo na última sexta-feira (1º) como um dos lançamentos de rock mais esperados do ano. O disco não tem o compromisso de ser revolucionário ou repetir a grandiosidade dos antigos clássicos com Frusciante, mas sim celebrar o retorno de um velho amigo, tanto para os demais integrantes, quanto para os fãs que cresceram ouvindo-o tocar.

O retorno à forma do Red Hot Chili Peppers

Em seus últimos projetos, a sonoridade do Red Hot Chili Peppers se distanciou muito dos clássicos que os tornaram tão aclamados — de maneira natural e completamente compreensível, principalmente após a saída de Frusciante. Seu retorno à banda tem um impacto imediato nas canções, trazendo um frescor que há muito tempo não se sentia em suas músicas, ainda que não seja (e talvez seja impossível ser) o mesmo de “Blood Sugar Sex Magik” (1991) ou de “Californication” (1999).

Isso não significa que os trabalhos gravados com Josh sejam necessariamente ruins. “I’m With You” (2011) e “The Getaway” (2016) se destacaram como obras consistentes e com faixas de grande potencial em seus repertórios, embora tivessem seus altos e baixos; porém, “Unlimited Love” recupera a essência que Anthony Kiedis, Flea e Chad Smith construíram com John Frusciante pelos melhores anos de suas carreiras.

Ao longo do disco, a banda explora diversas possibilidades em sua sonoridade que, até pouco tempo atrás, pareciam limitadas pela sua antiga formação. Com Frusciante, a química não apenas flui melhor pelas músicas, como também permite ao grupo alternar entre diferentes estilos: os riffs contagiantes do funk, as baladas mais lentas e os traços tradicionais e experimentais do Red Hot estão todos presentes nas 17 canções.

“Black Summer” inaugura o álbum com um ritmo mais seguro e feito para os estádios, com uma crescente pensada para levantar as multidões e ideal para dar início à tracklist. Já em “Aquatic Mouth Dance”, a banda abusa de sua sintonia para dar vida ao groove que os consagraram, com destaque para as linhas de baixo de Flea e a guitarra de Frusciante, como não poderia deixar de ser — assim como em “She’s A Lover” e “Whatchu Thinkin’”, dois outros destaques do trabalho.

Por vezes, o grupo procura inovar em várias de suas canções, o que se tornou uma marca registrada de seus lançamentos. Em “Let ‘Em Cry”, o quarteto mistura um refrão viciante com metais ao fundo de seu som, levando à uma combinação certeira para fazer uma das melhores surpresas do disco. Já outras invenções como a bagunça de “Bastards Of Light” ou os sintetizadores de “Veronica” não transmitem a mesma energia que deveriam ter no papel, parecendo perdidas no fluxo da obra.

Há também momentos mais sentimentais em meio às músicas, ainda que nem todas funcionem tão bem. “Not The One”, por exemplo, não consegue convencer ao ouvinte na tentativa de ser mais profunda; por outro lado, faixas como “These Are The Ways” e “White Braids & Pillow Chair” soam muito mais verdadeiras e contagiantes, marcando dois dos momentos mais calmos e sensíveis do álbum.

Além de Frusciante, outro retorno crucial em “Unlimited Love” é o de Rick Rubin aos estúdios. O produtor esteve presente na criação de todos os trabalhos de estúdio do Red Hot Chili Peppers desde 1989 (com exceção de “The Getaway”, feito pelas mãos de Danger Mouse) e faz as engrenagens girarem novamente. As ideias da banda, desde as mais exageradas até as mais brilhantes, concretizam-se de maneira natural sob sua produção, o que também facilita a química dos integrantes nas gravações.

Uma celebração para banda e fãs

Apesar de ser um disco bastante eclético, “Unlimited Love” não tem pretensão alguma de ser a mudança de direções que muitos esperam do Red Hot Chili Peppers. Na realidade, a banda nunca abandonou sua fórmula, mas sempre procurou reinterpretá-la de diferentes formas, o que explica a longevidade de seu sucesso por décadas e sua enorme contribuição ao rock.

O álbum, contudo, não se propõe a ser nada mais além de um reencontro de não só velhos amigos, mas principalmente artistas que, juntos, descobriram a essência de sua música. O retorno de John Frusciante dá um novo respiro à banda, que parece tocar com liberdade e criatividade muito maiores do que nos últimos anos, com o compromisso único de soarem somente como si mesmos.

As novas canções celebram a sua trajetória de formas sutis: não é sempre que você vai ouvir Anthony Kiedis versar abertamente sobre a amizade e a união, mas a alegria que as músicas transmitem é a mesma dos fãs que há tanto tempo aguardavam por esse momento. As linhas de baixo contagiantes de Flea e a bateria sempre potente de Chad Smith se casam novamente com os solos nostálgicos de Frusciante, e voltam a dar sentido a um grupo que jamais se perdeu, mas que, curiosamente, reencontrou-se.

Ainda que tenha seus altos e baixos, entre momentos de inspiração e exagero, “Unlimited Love” é um verdadeiro presente para o público. Seja no estúdio ou nos palcos pelo mundo, o retorno do Red Hot Chili Peppers à sua melhor formação já é uma das grandes notícias da música no ano, e um merecido afago para os fãs da banda.

7 / 10

Melhores momentos: “Aquatic Mouth Dance”; “These Are The Ways”; “White Braids & Pillow Chair”

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