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I Wanna Be Tour em São Paulo relembra cena pop punk e emo dos anos 2000

Festival marca sua primeira edição e passa por mais quatro cidades

Di Ferrero, do NX Zero, durante show no I Wanna Be Tour em São Paulo. Foto: Isabella Zeminian/Tracklist

“Vamos voltar para 2006?”, perguntou Martin Johnson, vocalista do Boys Like Girls, durante o show do grupo na edição de São Paulo do I Wanna Be Tour, que aconteceu nesse sábado (2). De fato, as doze horas de festival foram uma verdadeira viagem ao tempo com uma seleção de bandas que marcaram o pop punk e o emo no Brasil e no mundo na década de 2000.

Esta é a primeira edição do I Wanna Be Tour, que passará por mais quatro cidades: Curitiba, Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Acompanhe o que aconteceu no primeiro dia em São Paulo, que recebeu 50 mil pessoas, segundo a organização.

I Wanna Be Tour em São Paulo teve palcos colados

12 bandas compuseram o line-up do festival dividido em dois palcos. Como a edição paulistana ocorreu no estádio Allianz Parque, os tablados ficaram um ao lado do outro.

A venda de ingressos foi dividida por setor. Para quem estava na Pista Premium, por exemplo, o deslocamento durante o dia foi relativamente simples, uma vez que o local ainda não estava cheio em sua totalidade – os ingressos para São Paulo esgotaram. Com isso, era possível assistir aos shows dos dois palcos de forma próxima. Mesmo à noite, quando o estádio começou a receber mais gente, quem optou por ficar em uma ponta enquanto o show rolava na outra conseguia enxergar parcialmente o palco sem grande comprometimento.

Para quem estava nas cadeiras, o deslocamento era um pouco mais complexo. Quem optou por ficar em frente aos dois palcos teve a visão total de ambos, mesmo que mais distante. Já quem preferiu as laterais, dependendo da localização, tinha mais acesso a um palco do que a outro – e se quisesse ir de uma ponta para a outra, precisaria fazer o deslocamento na parte interna do estádio.

Pitty durante show no I Wanna Be Tour em São Paulo. Foto: Isabella Zeminian/Tracklist

A advogada Dafna Gringauz, de 29 anos, comprou ingresso para cadeira superior e a escolha de lado se deu por necessária. “Tinham bandas que eu preferia que eram de um lado, tinham bandas que eu preferia que eram do outro (…) pensei em virar o estádio, mas, na prática, era difícil”, conta.

No entanto, a dinâmica se mostrou necessária devido ao espaço e à quantidade de bandas no line-up em um único dia. Enquanto um show rolava em um palco, o outro recebia a montagem para o próximo grupo – o que possibilitou a sequência das apresentações sem atrasos e com poucos intervalos. A ideia foi aprovada pela publicitária Stefani Almeida, de 29 anos. “Eu acho que ter dois palcos facilita bastante, você não tem muita espera de um show para o outro”, relata.

Shows em sequência

A primeira banda a se apresentar foi a Fresno, pontualmente às 11h, no palco “It’s not a phase”. O anúncio do horário do show, que segue para as demais cidades, rendeu comentários negativos nas redes sociais – e não foi diferente durante o evento.

A abertura dos portões, marcada para as 10h, enfrentou problemas de acordo com relatos de fãs. “A organização da entrada foi muito ruim, as filas foram muito bagunçadas”, conta a advogada Maria Luiza, de 27 anos, que chegou no primeiro horário. Dafna, que queria assistir ao show da Fresno, conta que chegou na fila às 10h20 e perdeu as duas primeiras músicas da banda. “A fila da pista premium estava junto à fila da cadeira superior, estava muito cheio”, relata.

Às 12h, ao final do show da Fresno, o Allianz Parque já contava com 25 mil pessoas, segundo o guitarrista da banda, Vavo, em seu Instagram – o que seria a metade da capacidade do evento. O fato não foi confirmado pela produção, mas independente do número exato, mostra o poder e a influência da banda, que fez um show marcado por sucessos como “Quebre as Correntes” e “Desde quando você se foi”. A apresentação marcou o início da turnê “Eu nunca fui embora”, que dá nome ao próximo álbum do grupo, cujo lançamento está marcado para abril.

Leia também: Entrevista: Fresno revela expectativas para I Wanna Be Tour

Lucas Silveira, da Fresno. Foto: Isabella Zeminian/Tracklist

Em seguida, no palco “It’s a lifestyle”, o Plain White T’s tocou pela primeira vez no Brasil. O vocalista Tom Higgenson se mostrou feliz pela vinda da banda, que preparou uma surpresa aos brasileiros. “Nós nunca tocamos essa música ao vivo antes e por algum motivo ela é muito popular aqui no Brasil”, disse Tom antes de tocar “Natural Disaster” para delírio do público. Outras canções, como “1, 2, 3 4” e a famosa “Hey There Delilah”, foram bem entoadas pelos presentes.

“Hey There Delilah”, inclusive, recebeu a participação de DAY LIMNS nos vocais. Em entrevista ao Tracklist, a cantora conta como recebeu o convite. “Eles queriam trazer um dos nossos para cantar com eles, queriam honrar o país (…) alguém falou meu nome e eles amaram”, disse a artista, que lembra de ouvir a música na adolescência. “Eu estar aqui no presente, com 28 anos, vivendo isso, e me levar para minha criança lá na sala (de casa) assistindo a esse clipe… é muito legal”.

O dia seguiu com o show da banda Mayday Parade, que retornou 11 anos desde sua última vinda ao país, em setembro de 2012. Na apresentação, faixas como “Miserable at Best” e “Jamie All Over” se sobressaíram. Depois foi a vez de Pitty, que foi ovacionada pelos presentes e entregou um show redondo e marcado por grandes sucessos. O público entoou faixas como “Teto de Vidro”, “Equalize” e “Na Sua Estante” e “Me Adora”. Visivelmente emocionada, a cantora se despediu com sua filha ao colo.

Em seguida, Boys Like Girls resgatou hits dos anos 2000, como “Love Drunk”, “The Great Escape” e “Two Is Better Than One” – esta última, um feat com Taylor Swift. O vocalista Martin Johnson ainda brincou durante a canção: “Desculpe, ela não está aqui”. Além das canções, um dos pontos que chamou atenção no show da banda foi o fato de Martin estar com o braço imobilizado, o que não foi um impeditivo de sua vinda ao Brasil.

Martin Johnson, do Boys Like Girls. Foto: Isabella Zeminian/Tracklist

Asking Alexandria e The Used trouxeram roda punk e potência ao festival. Por outro lado, fãs reclamaram do som do palco do Asking Alexandria, que retornou ao país após sete anos. Já o The Used recebeu a presença de Lucas Silveira, vocalista da Fresno, ao final do show, quando cantaram “A Box Full of Sharp Objects” e até “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana.

À noite, All Time Low mostrou presença de palco e cativou mesmo um público que não estava ali exclusivamente pela banda. “Dear Maria, Count Me In” foi o ponto alto da apresentação. Em seguida, o The All-American Rejects enfrentou problemas de som, o que acarretou em uma plateia visivelmente desanimada, em contraste com o vocalista Tyson Ritter. A banda só conseguiu empolgar em suas três últimas canções: “It Ends Tonight”, “Move Along” e “Gives You Hell”, que foram sucessos na década de 2000.

Bert McCracken, do The Used, com Lucas Silveira. Foto: Isabella Zeminian/Tracklist

Por sua vez, o NX Zero entrou aclamado no palco “It’s a lifestyle”. “Razões e Emoções”, “Pela Última Vez” e “Cedo ou Tarde” foram algumas das canções mais entoadas pelo público, que deleitou uma chuva de lanternas e flashes em “Cartas Para Você”. A sinergia entre banda e público se manteve durante o show do A Day To Remember, que entregou potência em uma apresentação marcada por frenesi.

Por fim, o Simple Plan encerrou a primeira noite de I Wanna Be Tour com um show vibrante e marcado por sucessos que viraram hino de uma geração, como “Welcome To My Life”, “I’m Just a Kid” – que teve a participação de Di Ferrero, do NX Zero – e “Perfect”. O vocalista Pierre Bouvier se manteve animado com o público brasileiro, já velho conhecido da banda. Porém, canções que vieram em medley, como “Crazy”, “Perfect World” e “Save You”, funcionariam muito melhor se estivessem separadas, já que foram grandes sucessos no Brasil.

Nostalgia foi ponto forte

Para quem ouvia as músicas das 12 bandas do line-up em suas caixas de som acopladas ao computador ou nos fones de ouvido de disc-mans, aparelhos MP3 ou das primeiras gerações de iPod, estar no I Wanna Be Tour era sinônimo de resgate às crianças e aos adolescentes do começo do século XXI. “Foi incrível lembrar da adolescente que fui, ouvindo essas músicas no meu quarto, e agora poder cantar junto de várias outras pessoas revivendo esse mesmo sentimento”, relatou a estagiária administrativa Luna Garçone, de 28 anos.

A analista de produto Katherine Fioravante, de 26 anos, concorda com o gostinho nostálgico que o evento proporiconou. “O festival me fez lembrar como música ao vivo é uma das melhores experiências da vida. Foi como uma justiça ao seu eu adolescente ‘emoxinho’ que ouvia música sozinho no quarto lá em 2007 achando que ninguém te entendia”, afirmou.

Apesar do forte calor que fez em São Paulo, o público foi fiel às raízes da época e do gênero musical: roupas pretas e coturnos foram vistos em larga escala, assim como maquiagens mais pesadas e elaboradas.

Entretanto, quem estava lá, sobretudo na pista e na pista premium, sentiu falta de lugares adequados para sentar e fugir do sol – entre shows e intervalos, grande parte se acomodava no chão da parte interna do estádio. “Tem muita gente sentada no chão porque não tem lugar para descansar ou consumir os produtos vendidos”, disse o youtuber Guilherme Yuri, de 27 anos. Demais problemas, como demora na reposição de alimentos, também foram reportados pelo público. O Tracklist entrou em contato com a assessoria do festival e aguarda o retorno.

Com erros e acertos, o I Wanna Be Tour trouxe uma nova proposta de festival ao Brasil e a diferentes cidades, saindo do eixo Rio-São Paulo. É possível arriscar uma segunda edição – e o público ouvido pelo Tracklist já sonha com nomes como My Chemical Romance, Good Charlotte e Paramore.