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Review: “The Car” é uma viagem só de ida para nova fase do Arctic Monkeys

Sétimo álbum de estúdio da banda inglesa deixa claro as intenções de não voltar mais ao passado

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Foto: Divulgação

Don’t get emotional. Uma composição tão simples, mas que pode exemplificar tudo o que a nova fase do Arctic Monkeys significa para sua discografia. Para quem pensava que “The Car” indicaria um retorno às origens, é bom apertar os cintos – a proposta é embarcar em uma viagem completamente diferente, e, propositalmente, na contramão.

Após dividir opiniões com “Tranquility Base Hotel & Casino” (2018), o famoso quarteto de Sheffield retorna para mais uma coletânea inspirada nas big bands dos anos 60. Desta vez com um conceito muito mais enxuto e direto ao ponto, Arctic Monkeys não parece mais querer investir em algo que remonte seus tempos de ascensão, como em “Favourite Worst Nightmare” (2007), ou até mesmo quando (re)conquistou as massas, em “AM” (2013).

“The Car” tem uma linha de raciocínio muito clara: é o momento em que a banda está, definitivamente, confortável para crescer. Longe da farra adolescente ou das incertezas da primeira fase da vida adulta, o sétimo álbum de estúdio da banda combina influências do jazz, blues, mas não deixa de introduzir (ainda que de forma muito, muito sutil) o que faz de melhor: linhas de baixo e guitarra que somente um clássico contemporâneo do indie rock é capaz de fazer.

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“The Car” é o sétimo álbum de estúdio da banda britânica | Foto: Spotify/Divulgação

“The Car”: Produção e composição

Assim como a maioria da discografia da banda, o vocalista e guitarrista Alex Turner assina todas as letras de “The Car”. Popular por ser um letrista de descrições muito específicas para situações corriqueiras do dia a dia, não sobra dúvidas que Turner, neste álbum, elevou um pouco o patamar estabelecido por ele mesmo. 

Com dez faixas inéditas, “The Car” não foge muito da média de reprodução da discografia (em torno de 38 minutos), no entanto, não deixa de ser o mais curto. Ao mesmo tempo, é, provavelmente, o mais denso. Ao contrário das melodias estridentes que marcaram grandes singles da banda, como “Suck It And See” ou “505”, é neste álbum que a banda abandona de vez o estereótipo rockstar adotado nos últimos anos.

“De volta para a base lunar”, como o próprio frontman define seu estúdio em Los Angeles, a sequência de ‘Tranquility Base’ de fato remonta a época que o homem pisou a lua. Mais orquestrado, ritmado em soul music e com flertes à bossa nova, o conceito é quase um vazio existencial – assim como a própria capa do disco.

Destaques

Para um álbum de dez faixas, boa parte dos destaques estão nos singles já promovidos nos últimos meses. “There’d Better Be A Mirrorball” inicia o disco criando a atmosfera que veremos nas próximas faixas, seguindo por “I Ain’t Quite Where I Think I Am”. 

Essa, em especial, é quando conseguimos ver Alex Turner, principalmente, em seu próprio elemento – que dança, vibra e simplesmente sente que está fazendo o que ele quer. O mesmo conforto é capaz de ser sentido em “Jet Skis On The Moat” e “Body Paint”.

Já na faixa-título e em “Mr Schwartz”, é um momento que, para um fã mais antigo, pode remontar as memórias da trilha sonora de “Submarine”. A voz de Turner, claramente, é muito mais madura nesse momento, mas não deixa de ser um ‘salve’ para esse ícone passado. Quase um voz e violão, poucos elementos, que de fato deixam as duas faixas ainda mais especiais e conectadas com o conceito do disco.

Nessa mesma fase final, “Hello You” é a principal fonte de energia. Essa, por sua vez, dialoga mais com o álbum antecessor – é o tipo de faixa que apenas consegue crescer em si mesma, que carrega fortes interpretações dos maiores ídolos do rock: David Bowie e Elton John

Recepção

É quase impossível dizer que “The Car” é uma surpresa para qualquer pessoa mais observadora. Se por um lado Alex Turner desejava concretizar algo “mais pesado” e acabou materializando excelentes faixas de encerramento (como ele mesmo define), Matt Helders, baterista do grupo, revelou várias vezes que “nunca mais será como ‘R U Mine?’”.

Aqui, é necessário ressaltar que a banda tem plena capacidade e energia para tal, mas é curioso como simplesmente não deseja fazer isso, uma vez que seria fácil demais. A ideia é, além de retomar o trabalho de ‘Tranquility Base’, andar em quase completa contramão às tendências de charts atuais. Não é o tipo de álbum concebido para viralizar – não seria prepotente a esse ponto.

Não à toa, o álbum recebeu nota 83/100 no Metacritic, além de receber cinco estrelas pela revista NME. Já a Pitchfork, conhecida por críticas mais ácidas e até mesmo polêmicas, definiu “The Car” como “um álbum de amor, saudade e dúvida”. 

A confusão mental das composições entra em harmonia com o ambiente de imersão das melodias, de forma soturna e melancólica. Se é um potencial desperdiçado, é algo que caberá ao ouvinte decidir. Mas, nas palavras do próprio frontman em “Perfect Sense”, é preciso lembrar que essa não é uma corrida, mas uma chegada invencível.

Nota: 8,5/10

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