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Review: Kylie Minogue realiza viagem futurista em novo álbum, “Tension”

16º álbum da artista australiana foi lançado na última sexta (22)

Foto: Divulgação

Por Tarcisio Boquady – Meses após o estouro surpreendente do single “Padam Padam”, o aguardado “Tension”, 16º álbum da cantora australiana Kylie Minogue, enfim foi lançado pela BMG na última sexta (22).

Com nota 87 – até o momento – pela média de críticas do Metacritc e com números já maiores que a estreia de seu antecessor “Disco”, Kylie se depara mais uma vez com um momento histórico na carreira, atravessando como Irma Vep e seu catsuit aveludado a barreira do etarismo sofrido pelas mulheres na indústria.

Parece que a viagem futurista por sonoridades de vários momentos musicais de sua vida foi um acerto. Somado ao típico aspecto vanguardista da Kylie Minogue dentro da música pop, “Tension” é uma viagem em alta velocidade e descompromissada com um destino específico. Um álbum que contempla e celebra a mais pura essência da Kylie: sensualidade, muito brilho e batidas eletrônicas refinadas que só a dona do hit “Can´t Get You Out Of My Head” consegue trazer. 

Em “Tension”, também observamos uma das características mais marcantes de Kylie: a de construir uma fantasia em torno da sua imagem, conseguindo, assim, manter sua privacidade. Considera-se que a artista expressa casos pessoais nas letras das faixas, porém não se sabe quais casos seriam esses. Dessa forma, Kylie constrói em suas composições uma espécie de “superficialidade profunda” que aguça a fantasia de sua personificação.

Desde o meme, o sucesso viral, as dancinhas no TikTok, os bons alcances nos charts e até o fenômeno cultural por ter se tornado uma espécie de gíria, “Padam Padam” comprovou que Kylie está mais atual do que nunca por ainda conseguir furar a bolha e se alastrar com tanto vigor. Essa onomatopeia de batida de coração inspirada pela homônima de Edith Piaf nos coloca diante de uma Kylie forte, atual e contemporânea que possui muita segurança dentro da indústria, esbanjando precisão e muito autoconhecimento enquanto artista. Tanta segurança que apostou em trazer elementos de deep house para Padam, facilmente executável nas pistas de dança e festivais.

“Tension”, de Kylie Minogue, faixa a faixa

Numa linha similar e um pouco mais experimental, o single “Tension” se formula nas repetições robóticas e calculadas. Uma simbiose perfeita de uma vocalização pop e chiclete pronta para ser um viral de TikTok numa construção mais hipnótica e profunda do electro com uma leitura minimalista do house dos anos 90.

“Hold On To Now” de imediato já ganhou o status de hino e o coração dos fãs por conseguir ser um euro dance progressivo sentimental e eufórico. Como um convite para focar no aqui e agora, entendendo que não é a idade e o passado ou as expectativas com o futuro que vai definir os passos da sua vida, mas sim o que fazemos agora. Um alívio catártico para tempos tão cheios de ansiedade e depressão. 

A baleárica com textura de vapor wave na introdução bem nostálgica “One More Time” entoa que mais uma vez ela vai navegar no mar disco, pois ali a deusa do pop sabe nadar muito bem. A letra já estabelece: “mais uma vez, mais uma vez, volte no tempo, nós temos história” 

Ao dialogarem em tom bem adocicado com “Say So” da Doja Cat, “Hands” e “Greenlight”, abrem um portal para o álbum “Body Language”, lançado há 20 anos por Kylie. A cantora chegou a mencionar que o ponto de partida para começar a produzir “Tension” foi o single “Slow” de 2003.

Investidas em um BPM mais lento, menos eufórico e mais maduro, misturando tudo que Kylie tem de melhor, ganham um status de atemporalidade tão imediatos que, assim como “Body Language”, só vai ficando melhor com o tempo. Se “Blossom Dearie” tivesse uma banda funky disco com Daft Punk, o nome poderia ser Kylie. O saxofone em “Green Light” entrega tudo. 

O synth-pop oitentista está presente em ”Things We Do For Love”, “You Still Get Me High” e “Story” – com aquela batida que The Weeknd atualizou com tanta excelência em “Blinding Lights” em 2020. A roupagem está cativante e nostálgicar, mostrando para uma geração Z recém-fisgada por “Padam Padam” que Kylie tem muita propriedade justamente pelos seus mais de 35 anos de carreira musical. 

Kylie reuniu seus produtores favoritos que marcaram a sua carreira em estúdios improvisados em Airbnb e hotéis pela Europa. Sem um tema ou um conceito muito definido, um álbum realizado quase como uma confraternização de amigos que se encontram e relembram os melhores momentos que passaram juntos. Talvez por isso o clima de festivais de EDM não poderia ter ficado de fora ao escolherem faixas como “Vegas High” e a parceria com Oliver Heldens em “10 Out of 10”. 

“Tension” é um forte indício de que Kylie não está nada conformada em relaxar sobre o sucesso pela mera nostalgia. Ela é fiel a si mesma, sem apelar para repaginações absurdas apenas para se enquadrar, e mesmo assim inova e renova e consegue oxigenar cada vez mais a curiosidade na seguinte questão: o que Kylie ainda irá fazer?

Nota: 9/10

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