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Entrevista: Tom Chaplin detalha novo disco solo, “Midpoint”, e relembra vindas ao Brasil

Vocalista do Keane trabalha em seu terceiro álbum solo, que será lançado em 2 de setembro

Foto: Derek Hudson/Divulgação

O cantor Tom Chaplin lança, nesta sexta-feira (2), seu terceiro álbum solo, “Midpoint“. Ao longo de 13 faixas, Chaplin, de 43 anos, aborda pensamentos, sentimentos e reflexões referentes à meia-idade e às questões que permeiam esse momento da vida. Até o momento, duas canções do novo trabalho foram lançadas: a faixa-título do álbum, “Midpoint”, e “Gravitational“.

As músicas de “Midpoint” começaram a ser escritas em 2020, quando a turnê “Cause and Effect“, do Keane, banda na qual Chaplin é vocalista, foi interrompida pela pandemia de covid-19. Porém, segundo o cantor, o contexto não interferiu nas composições. “Eu comecei a escrever bastante durante o lockdown, mas ao mesmo tempo acho que faria isso de qualquer maneira (…) De repente, [vieram] todas essas perguntas de chegar a um ponto médio na minha vida, questionando se isso é o que eu quero, e chegando a um acordo com isso, meio que resistindo às tempestades”, disse Tom Chaplin em entrevista ao Tracklist.

Na conversa, Chaplin fala sobre como o momento atual de sua vida influenciou o novo disco, o que os fãs podem esperar do trabalho e relembra as vindas ao Brasil com o Keane – a última delas, para São Paulo em dezembro de 2019.

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Entrevista com Tom Chaplin

Tanto “Midpoint” quanto “Gravitational” têm significados bem fortes e pessoais. Como foi escrever esses sentimentos específicos e transformá-los em canções?

Acho que o esforço que tenho para escrever, hoje em dia, é dar um relato muito honesto de onde eu estou na minha vida. O álbum é sobre uma parte da vida que não é necessariamente muito discutida na música pop: sobre a meia-idade e como chegar a um ponto em que você não é mais jovem, quando você está em um estágio diferente. Achei muito interessante escrever sobre isso, e é uma parte da vida que praticamente todos nós passamos ou passaremos em algum momento. Então eu senti que havia muitas coisas interessantes para escrever em termos da minha própria meia idade, e todas elas apareceram nas músicas do álbum de uma maneira muito honesta, eu acho.

Nesse contexto, como “Midpoint” se diferencia de seus outros trabalhos solo [“The Wave”, de 2016, e “Twelve Tales of Christmas”, de 2017]?

É um disco com um som muito diferente de qualquer coisa que eu já fiz antes. Eu trabalhei com o Ethan Johns, que é um produtor da velha guarda. Ele não gosta de muita tecnologia. Na verdade. ele realmente não gosta de usar computadores, mas de trabalhar com equipamentos antigos, sabe? Máquinas de fitas, de gravar as faixas ao vivo com todos os músicos na sala. Ethan é muito cauteloso com a forma como quer que os instrumentos funcionem, e eu acho muito incomum fazer um disco que soe assim hoje em dia. Tanta música é feita usando softwares e tecnologia, então fazer um disco que não é assim requer muita dinâmica. Eu fiquei pouco assustado com isso e ansioso para que as pessoas fossem capazes de processá-lo, ouvi-lo e dar-lhe o tempo e o espaço que ele requer. Mas até agora a reação que tive foi muito positiva e acho que eu vou ficar bem. (risos) É muito diferente de tudo que eu já fiz antes. Tem sido estressante, mas emocionante.

Seu novo álbum traz canções de reflexão e imaginação. Qual é a mensagem que você quer passar?

Se há uma mensagem no álbum, acho que é apenas minha própria experiência dessa parte da minha vida. Cheguei aos 40 anos, tenho dois filhos e estou com minha esposa há quase 20 anos. É um momento muito interessante, porque você constrói todas essas coisas, chega a esse momento na vida e de repente pensa consigo mesmo… você está meio que em uma encruzilhada. É como: “eu ainda tenho tempo para acabar com tudo e começar de novo, como encontrar um novo parceiro, começar uma nova família, mudar para outro lugar do mundo, começar uma nova carreira”. Pode ser qualquer coisa, as opções ainda estão abertas. É um momento muito interessante da vida porque essas coisas podem parecer muito sedutoras, mas para mim, o que aprendi e espero que apareça no álbum, eu sinto que cheguei a um acordo com a vida que construí e com as coisas que tenho, e realmente aprendi a apreciá-las e aceitá-las, e aceitar que eu não sou mais jovem, que estou escrevendo sobre coisas diferentes, experimentando coisas diferentes e está tudo bem.

“Midpoint” é sobre uma espécie de aceitação e provavelmente sobre dizer adeus a um certo momento da vida, aceitando que já passou, mas também percebendo que é bastante libertador fazer isso. Esse ponto médio em que me encontro é meio assustador, mas por outro lado é algo bonito, muito positivo e traz uma espécie de solidez e um tipo de sentimento enraizado em um lugar e em pessoas que eu conheço, confio e amo, e isso é algo realmente maravilhoso.

Foto: Derek Hudson/Divulgação

Você começou a escrever suas novas músicas durante o lockdown por conta da covid-19. Você já tinha planos de escrevê-las ou você acredita que esse contexto foi determinante?

Eu comecei a escrever bastante durante o lockdown, mas ao mesmo tempo eu acho que faria isso de qualquer maneira, independentemente da pandemia. Gosto de escrever quando há uma energia real, quando parece que há realmente algo sobre o que escrever. É como se eu não pudesse ser uma dessas pessoas que acorda todos os dias e escreve músicas o dia todo, o que não me parece muito autêntico. Eu senti que não tinha nada sobre o que escrever por alguns anos e, de repente, [vieram] todas essas perguntas de chegar a um ponto médio na minha vida, questionando se isso é o que eu quero e chegando a um acordo com isso, meio que resistindo às tempestades.

Durante a primeira parte do confinamento, eu tinha todo esse espaço e tempo para explorar essas coisas e escrever sobre isso. Eu provavelmente teria feito isso de qualquer maneira, mas… é interessante, porque muitos artistas falaram sobre a pandemia e sei que muitas pessoas expressaram a ideia que, na verdade, [o confinamento] não foi tão estranho, porque estamos acostumados a passar longos períodos em casa sendo criativos em uma espécie de pequena bolha introvertida, porque eu acho que é isso que você tem que fazer para escrever, e isso leva muito tempo. Então acho que muitos artistas estão acostumados com essa sensação de quase estar trancado. (risos)

Mas devo dizer que isso começou a se desgastar um pouco com o passar do tempo, porque também estou acostumado com a ideia de estar fora e na frente das pessoas, cantando e me apresentando. Parecia que quanto mais a pandemia durava, mais frustrante era não poder fazer isso. Para ser honesto com você, eu não acho que foi um tipo de álbum inspirado em uma pandemia. Apenas coincidiu, eu acho.

Você entrará em turnê solo em breve. Alguma chance de vir ao Brasil com seu trabalho solo?

Eu espero que sim. É muito difícil planejar qualquer coisa no momento, principalmente porque é caro ir para a América Latina particularmente por conta própria. Ir com o Keane é diferente, porque é um show muito maior, e é mais fácil voar com todo mundo, mas com meu trabalho solo seria em menor escala.

É apenas uma questão de saber se eu posso fazer [um show no Brasil] funcionar. Quero dizer, eu adoraria que fosse dessa forma, estou desesperado para isso. Desde que eu possa ir até aí e fazer shows suficientes, eu adoraria. Espero que no próximo ano, em algum momento, possamos fazer isso acontecer, mas no momento não posso dizer nada definitivo.

Não, eu entendo. Seria incrível ter você aqui. Eu estava no show do Keane em 2019 em São Paulo e foi incrível.

Que legal! Acho que esse foi o último show da turnê…

Foi sim!

Definitivamente, essa [turnê do álbum “Cause and Effect”] foi, de todas as turnês que o Keane já fez, uma das minhas favoritas. Como banda, estamos mais velhos agora e acho que nos damos melhor. Somos mais compreensivos uns com os outros, mais calmos, mais gentis conosco e uns com os outros. Então isso torna o ambiente de turnê muito mais feliz, mas também acho que estávamos tocando muito bem, e isso faz a diferença. Você se sente confiante em como está tocando. Todas essas coisas se juntaram e foi uma turnê bem feliz.

Viajar para a América Latina pode parecer estressante com todos os voos e viagens, então ter dado tudo certo foi uma ótima sensação. Me lembro de voltar de São Paulo e acho que estávamos todos falando sobre quando poderíamos sair e tocar novamente. Foi um verdadeiro sucesso. Estou feliz que você estava lá, e espero que possamos voltar novamente.

Poderia enviar uma mensagem para os seus fãs brasileiros?

Para mim, é tudo sobre a paixão no Brasil. Eu sempre amei o país. Já tocamos no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte. São cidades muito diferentes, mas a loucura dos fãs é sempre a mesma (risos).

Somos realmente apaixonados, certo?

Sim! Eu não sei por quê. (risos) É um nível diferente. Sempre que chegamos aí é uma emoção, porque é tão diferente. Há muitos outros shows que fazemos ao redor do mundo cheios de emoção e paixão, mas é outro nível na América Latina. Então, eu gostaria de agradecer pelo apoio ao longo dos anos.

Eu espero que as pessoas entendam e gostem de “Midpoint” tanto quanto eu gostei de fazê-lo. É provavelmente o maior ou o mais ousado trabalho artístico que eu fiz como artista solo. Dê tempo e ouça-o com cuidado, permitindo que o álbum cresça em você. Vale a pena escutá-lo quando tiver tempo e espaço, sentindo-se calmo, com fones de ouvido. Sabe quando você vai a um restaurante e recebe um menu degustação, com vários pratos para degustar? (risos) Eu meio que quero que as pessoas gostem dessa maneira, que realmente possam saborear o disco dessa forma, absorvendo-o e apreciá-lo nesses termos.

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