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Entrevista: Saulo Duarte e Aldo Sena falam sobre show conjunto

Apresentação vai acontecer em São Paulo, no final de setembro

Fotos: Ana Alexandrino/Natália Costa

Carimbó, Zouk, Lambada, Merengue, Cumbia e Reggae são alguns dos ritmos que o paraense Saulo Duarte mescla no que ele chama de pop tropical. Ao lado do guitar hero Aldo Sena, um dos três criadores da guitarrada (estilo original dessa Região Norte do Brasil), o cantor apresenta o show Baile Quente em São Paulo, no dia 30 de setembro. Em entrevista ao Tracklist, Duarte e Sena contam como será essa apresentação, a importância desse estilo musical e mais.

Entrevista: Saulo Duarte convida Aldo Sena

Como foi esse convite para se unir e se apresentarem juntos?

Saulo: A proposta desse show nasceu do meu interesse pessoal de estar perto do Aldo e trabalhar com ele, diante da minha profunda admiração pelo trabalho dele. É uma tentativa de oportunizar esse encontro de gerações da guitarrada paraense, minha e dele. 

A gente fez um show juntos em 2015 e, quando eu dirigi esse show, a partir daí surgiu essa amizade, esse carinho. E a gente vem, desde então, trocando ideias, confabulando, compondo. Depois de toda essa trajetória, agora, depois da pandemia, há a oportunidade de a gente celebrar isso no palco.

Aldo: Estou ansioso para esse show do dia 30 de setembro em São Paulo, que tocarei ao lado de Saulo Duarte. Eu já conheço um pouco do trabalho dele e pra mim será uma honra poder apresentar algumas guitarradas antigas e outras inéditas. 

Como é preparar um show conjunto?

Saulo: Preparar esse show tem um caráter especial porque é uma celebração desse ritmo da guitarrada. A gente está falando de um mestre autêntico desse estilo, de um original, então tem esse caráter até didático de traduzir ou de trazer esse repertório para as novas gerações e passear pela maior gama possível de estilos dentro da guitarrada. 

Porque a guitarrada é um estilo musical, mas aborda ritmos como o zouk, o merengue, o carimbó, a cumbia, então a ideia é passar pelo máximo desses estilos e também, obviamente, passar pelos clássicos: os hits do Aldo e os hits da minha carreira. 

Eu acho que tem um caráter de celebração e de revisitar a obra toda. Claro que vai ter música inédita, porque a gente também está fazendo essa parceria e compondo juntos, mas por estarmos celebrando, vamos trazer um apurado da carreira, tanto do Aldo quanto minha.

Aldo: Gratidão a Deus por me dar inspiração para eu compor, por me permitir conhecer lugares que eu jamais pude imaginar e conhecer pessoas novas, principalmente os fãs do meu trabalho.

E o que o público pode esperar dessa apresentação em São Paulo?

Saulo: Esse show tem um caráter de preservação, manutenção e respeito, profundo respeito, a esse estilo, desse patrimônio cultural que é o Aldo. O Aldo Sena é um representante da primeira geração da guitarrada, com mais de quarenta anos de carreira.

O primeiro disco dele faz 40 anos do lançamento no ano que vem. O público pode esperar um show de profundo respeito e profundo carinho da minha parte, que estou dirigindo o show, e da parte da minha banda. 

O Aldo tocou poucas vezes no Sudeste, então eu acho que tem um caráter didático mesmo, porque vamos passear por esses estilos, passear pelos hits dele e os meus e falar um pouco sobre a guitarrada. Então vai ser uma grande festa! 

A gente chama o show de Baile Quente porque ele remete aos bailes que aconteciam em Belém nos anos 1980 e nos anos 1990, onde a galera ia pra dançar salsa, merengue, cumbia, carimbó. Então queremos trazer essa energia, que, sem dúvida, é uma festa e uma celebração da música popular brasileira.

Aldo: O público pode esperar um show com muita pegada, muita alegria, tocando a essência da música de raiz do estado do Pará.

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Poderia explicar a importância desse gênero musical para a história paraense e do Brasil, como um todo?

Saulo: É de suma importância a gente preservar, celebrar, manter, deixar viva essa memória de um gênero musical que é genuinamente brasileiro e 100% amazônico. A gente está falando de um estilo que, como o forró, como o samba, está fincado no coração do Brasil e esse especificamente fincado no coração da Amazônia, um ritmo genuinamente do Norte. 

Então a importância é gigantesca. A gente está, como eu falei anteriormente, tocando com o mestre da primeira geração da guitarrada, o que significa que estamos falando diretamente com a fonte. A representatividade disso é enorme. 

O carimbó é patrimônio cultural e a guitarrada, principalmente na extensão da forma como o Aldo aborda a guitarra, como o mestre Vieira aborda a guitarra, é muito única e isso é não só motivo de orgulho, como é produto de exportação e de valorização nacional. 

A resposta vem dessa ancestralidade. Então esse gênero musical é de suma importância porque é genuinamente brasileiro e que a gente deve respeitar. Eu estou profundamente feliz e tenho muito orgulho de trazer meu contributo e de estar perto do Aldo.

Qual você diria que é a maior dificuldade em misturar tantos ritmos diferentes?

Saulo: Eu acho que não tem dificuldade não. A gente, brasileiro, tem licença poética para transitar por diversos gêneros e ritmos. O Brasil é da dimensão de um continente, então dentro desse território nacional a gente tem muitos estilos e muitas representatividades. 

Como brasileiros, a gente tem o dever de abordar essa variedade e de usar a diversidade e a inclusão como nossas marcas. Para mim, abordar todos esses ritmos é algo primeiramente natural. Até porque, por exemplo, nos anos 1970 e 1980 em Belém do Pará, as frequências de rádio que pegavam eram muito mais as frequências de rádio da América Latina do que do Sul do Brasil. Isso quem me contou foi o Aldo. Então, quando ele ouvia música, ele ouvia muita salsa, muita cúmbia, muito merengue. 

E aí você pega esses ritmos latino-americanos traduzidos pela cultura de Belém do Pará e isso é muito significativo. Existe um carinho e uma preocupação de, nesse show, já que o Aldo não vem a São Paulo há tanto tempo, tentar passar pelo máximo possível desses gêneros, desses estilos. Não existe dificuldade, é só prazer.

Qual a principal mensagem que vocês gostariam de transmitir por meio da música?

Saulo: A principal mensagem especificamente desse show é de que a gente deve realmente se sentir orgulhoso e tratar com carinho e proteger os nossos mestres da cultura popular. Que a gente deve se sentir orgulhoso desse verdadeiro Brasil autêntico, desses ritmos genuinamente brasileiros. 

A gente está falando do Aldo Sena, que nasceu em Igarapé-Miri no interior do Pará, então essa ancestralidade original que ele traz dos povos originários e essa abordagem guitarrística tão única dele, a gente tem que celebrar. 

A mensagem principal é de que a gente deve acolher a diversidade, a variedade de ritmos, a miscigenação, não de uma forma ingênua, mas de uma forma consciente de entender que o verdadeiro Brasil é generoso, é empoderado e, portanto, exatamente por ser empoderado, aceita a diferença e a diversidade. Tudo isso é resposta pro mundo. 

Quando a gente tinha Gilberto Gil como ministro da cultura, uma das mensagens claras do Gil era exatamente essa: o papel do Brasil é de ser generoso, é de acolhimento, de mostrar que não se vive sozinho e de que o grande poder da cultura é quando todo mundo está empoderado, quando todo mundo está representado e que o Brasil tem esse papel. 

Então, eu acho que a grande mensagem é de diversidade, a inclusão… e isso não só falando de música, falando de cultura, falando de gênero, falando de gente, falando de comida, de acessibilidade, de tudo. 

A música, a cultura, é porta pra gente falar sobre tudo: tudo é política, tudo é cultura, então a partir desse pressuposto de a gente abordar vários ritmos no show, de a gente estar falando de um mestre, de a gente estar falando de um diálogo de gerações, onde o Aldo é da primeira geração e eu sou de uma geração mais contemporânea. E, dessa junção, dessa amizade, desse respeito, eu acho que a gente tem muitas mensagens aí pra abordar e a principal delas é essa.


O show Baile Quente com Saulo Duarte e Aldo Sena vai acontecer na Comedoria do Sesc Pompeia, em São Paulo/SP, no dia 30 de setembro (sexta-feira) a partir das 21h30 (ingressos aqui).

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