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Review: ‘Rainbow’ e a resistência de Kesha

Os último anos foram extremos para Kesha. Desde 2014 ela tenta encerrar a parceria com o produtor Dr. Luke, acusado, por meio de um processo aberto pela cantora, de abusar “sexual, física, verbal e psicologicamente dela, a ponto de ela quase perder a vida” para, dessa forma, “manter total controle”.

Por outro lado, ela também é processada pelo próprio produtor por difamação e quebra de contrato e chegou a ser internada em um clínica de reabilitação para tratar de transtornos alimentares, que teriam sido causados justamente por Dr. Luke.

Apesar de ser o momento mais pesado na carreira de Kesha, o contexto precisa ser relembrado, pois está completamente ligado ao processo de produção do álbum. Mas isso é o que torna “Rainbow” um trabalho tão marcante. É um álbum que marca a resistência da cantora, e, além disso, mostra Kesha com uma liberdade musical nunca vista antes em seus álbuns. Ainda assim, a cantora segue presa a sua gravadora e ainda precisa de autorização da mesma e de Dr. Luke para lançar seus trabalhos.

Sonoridade

O álbum passeia por diversos estilos, ratificando a liberdade de criação que a americana teve durante a produção. Em “Rainbow” ouvimos a tradicional Kesha pop, mas também relembramos os seus flertes com o rock, além de experimentarmos suas facetas no country. Essa mistura tem a ver com as “verdadeiras” influências de Kesha, entre elas Iggy Pop, The Beatles, The Rolling Stones, James Brown e também Dolly Parton, que participa da nostálgica e bucólica “Old Flames (Can’t Hold a Candle To You)”.

Letras

No quesito lírico, a maioria das canções traz não só a vulnerabilidade da cantora, mas também sua força. A música de abertura do álbum, “Bastards” faz uma provável referência ao livro de 1985 “The Handmaid’s Tale”, de Margaret Atwood, que traz a frase em latim “Nolite te bastardes carborundorum”, que pode ser traduzida como “não deixe os desgraçados te derrubarem”, e aparece em um trecho do refrão da música.

O tema retorna no carro chefe do álbum, a balada “Praying”, que envia, de forma bela e com bondade, uma mensagem direta a justamente quem imaginamos, na qual Kesha deseja, depois de tudo, que “encontre sua paz”. Destaque aqui para a demonstração de todo o alcance vocal da cantora.

Além das lutas pessoais, Kesha canta também sobre o feminismo, como na poderosa “Woman”. A música foi inspirada no escândalo envolvendo gravações de declarações misóginas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O evento foi também um das pautas da Marcha das Mulheres em Washington, em janeiro deste ano, um dia após a posse do presidente americano.

Mas nem só em temas totalmente profundos o álbum se constrói. Em “Finding You”, ouvimos Kesha cantar sobre o amor e estar com quem se ama independente do rumo que a vida tomar. Já em “Hunt You Down”, em um country animado, temos uma pitada do humor da cantora, dizendo que “nunca enterrou um corpo” ou “matou alguém”, mas “não tem medo de ficar um pouco louca quando está apaixonada”.

Por fim, em “Spaceship”, a última música do álbum, Kesha termina seu trabalho com um belo monólogo que refelte sobre sua vida. Sua real mensagem repousa entre suas últimas frases: “…eu me sinto livre. Nada é real. O amor é tudo. E eu não sei nada”.

Ouça o álbum completo:

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