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O brasileiro ^L_ mostra que tem muito a dizer e mostrar no país e ao redor do mundo


Se há uma palavra que define ^L_ (leia-se “Control L”), ela é inquietude. O brasileiro de 33 anos, que se tornou cidadão do mundo, consegue transformar inquietude e questões existenciais em música. O seu segundo álbum foi lançado pelo selo Antime em um “2016 ainda mais mágico do que 2015”, nas palavras dele mesmo, e vem fazendo sucesso na Europa Central, com destaque para a Alemanha, Polônia, Rússia e até mesmo no México. Pensa que parou por aí? Vem mais som pesado e inspirador por aí, com previsão para o segundo semestre de 2017.

Confira a seguir a entrevista concedida por ele ao Tracklist e mergulhe no universo genial e caótico de ^L_.

 

Se fosse anunciar no show ao vivo, como te anunciaria ? Como pronunciaria seu nome artístico? Nos conte.

Se pronuncia “Control L”.

Em 2014, você teve o seu primeiro lançamento, a repercussão foi ótima, e agora você está nesse momento de você divulgar o que fez recentemente, e queremos entender o que mudou e qual a perspectiva que você tem hoje do seu trabalho.

Lancei o disco em fevereiro deste ano e está repercutindo muito bem. Foram publicadas muitas resenhas favoráveis em países como República Tcheca, Rússia, Polônia, Portugal, França, Colômbia, Canadá, México e, principalmente, na Alemanha. Isso faz sentido, porque o meu selo é de lá, já toquei lá e a repercussão na Alemanha é muito boa. O disco está sendo vendido nas principais lojas do mundo e em outras como eBay, Amazon e Apple Store. Descobri recentemente que está sendo vendido na Coreia. O álbum está sendo muito bem espalhado e isso é gratificante.

 

Seu trabalho tem um aspecto global muito forte que está sendo divulgado pelo mundo inteiro e há pessoas de vários lugares do mundo conhecendo. Queremos saber como você se sente vendo isso acontecer, se você a cada momento você está vendo e publicando noticias de sites que te citam. Além disso, queremos saber se você percebe algum tipo de diferença com relação ao público mediante a geografia, ao relacionamento pessoal e emocional que elas têm com isso, ou se não têm também.

Não sei muito [sobre a dimensão global do trabalho]. Só sei na Alemanha porque toquei lá e o som é muito bem-vindo lá. Creio que na Rússia e Polônia também seja. Não tenho muita noção sobre [a repercussão] nos EUA. Acho que lá não chegou legal ainda e não sei como é a abertura do mercado em relação a isso. [O disco] é bem mais aceito nessa região da Europa do que, por exemplo, no próprio Brasil, onde não vem aparecendo tanto espaço. A verdade é essa.

 

Você já declarou ter tido um momento de profunda tristeza, depressão, e que após esse momento seu trabalho fluiu muito e evoluiu. Esse sentimento de tristeza não é estranho às pessoas ? Queremos saber como isso se resolveu para você, ou não se resolveu.

O primeiro álbum foi lançado em 2014. Eu estava passando por um período ruim, com depressão – tenho depressão forte e síndrome de Asperger, e vivo tomando remédios. Eu havia passado por um período muito ruim no começo de 2013, quando fui internado – eu já mexia com música [à época]. Curiosamente, não estava fazendo nada naquele período. Lembro-me de que, durante terapias, falava em voltar a gravar, mesmo sem saber no que iria dar. Gravei um amontoado de músicas, que resultaram no primeiro disco, que é meio confuso e perdido, e flerta com vários temas. Era para ser daquele jeito porque a minha cabeça estava daquele modo e reproduziu bem o que estava acontecendo.

Curiosamente, teve aceitação grande, saiu em algumas listas indie de melhores discos e chamou a atenção do selo que hoje lança o meu material. Eles lançaram o [primeiro] disco em formato digital apenas, teve repercussão boa, e consegui fazer outro álbum – o atual -, que seria lançado em vinil e digital. Gravei e chegamos ao ponto em que estamos agora.

 

Você sente que a sua música foi uma consequência natural do que você estava sentindo que as suas composições? O que você produz saiu de você, independente do que você estava passando? Você consegue ter essa separação, ou o envolvimento do seu trabalho é tão pessoal e íntimo que não tem como separar?

Depressão e trabalho caminham juntos. Eu não gosto de dizer que sou dependente disso para compor, pois não funciona assim. Mas isso faz sentido também, porque não consigo me imaginar, pelo menos agora, fazendo algo que não seja relacionado a isso. As minhas músicas são todas regadas com raiva e tristeza, pois a raiva é uma forma de proteção em relação à tristeza. Um dos pilares do último disco foi o escritor David Foster Wallace, cuja voz foi sampleada na faixa-título, com uma fala sobre outro tema, mas que sintetiza o que o disco diz. [A fala de Wallace é] Sobre como a gente é alienado e como a nossa sociedade transforma as pessoas em pessoas cínicas, alienadas, que tentam se proteger para não serem machucadas e acabam machucando. O disco inteiro é voltado a isso.

Até vou conseguir fazer músicas com temas felizes, mas não serei eu. A minha música caminha com isso, pois essa é a forma como encontrei para expressar o que sinto e a minha dor. Não que eu seja uma pessoa triste, por 24 horas por dia – sou até palhaço demais. Mas é nessa hora que “vomito” as coisas que me incomodam, sento e expresso tudo da minha forma mais honesta. O processo de composição é algo muito intimista, pois faço minhas músicas de modo muito pessoal. Apesar de serem faixas instrumentais, elas dizem muito sobre mim, entendeu? Eu praticamente não escuto o meu [primeiro] disco, porque não gosto. Já o atual, eu escuto e tenho orgulho, porque foi um trabalho que consegui começar e finalizar, entendeu? Você fica com a sensação de ter conseguido fazer a coisa e isso é fantástico.

 

Sobre o clipe “Hello, I’m Richard Clayderman”, gostaria de saber se foi sempre uma visão que você teve a partir do momento que tava com a música pronta, ou que foi um processo que aconteceu de outra forma (sugestão de alguém, inspiração que teve em algum lugar) ? 

É o segundo single do disco. Concordo com duas coisas que você disse: foi lançado faz dois meses, diretamente pela Vice alemã, que fez uma première à época com o disco, clipe, detalhes… O clipe foi dirigido pelo alemão Max Luz, que é um cara bastante conhecido lá, que já produziu clipes do Moderat e de outros caras grandes. A ideia do clipe foi baseada em uma ideia minha e ele colocou tudo em prática. O mérito é dele além de tudo.

 

Você está nesse momento de divulgação do seu trabalho, e queremos saber qual o momento mais chato da divulgação ?

Tenho controle de tudo na parte musical e sou bem meticuloso. Quando chamo e alguém se compromete a fazer parceria comigo, quero explorar ao máximo. No caso do Max, falei que tinha confiança nele e que ele poderia mostrar o que sabia fazer. Se você está trabalhando comigo, é para fazer do jeito que você achar melhor, se sentir livre para criar da melhor forma possível. O que ele fez foi um trabalho espetacular e lindo, esteticamente falando. Ele conseguiu reproduzir legal coisas que estavam na minha cabeça. Virão outros trabalhos aí.

 

Estamos no final do ano já, e queremos saber de você como foi esse ano para você artisticamente, e o que espera para o próximo ano?

Está sendo um ano genial. 2015 já havia sido fantástico, pois eu havia feito uma turnê na Alemanha. Entre o lançamento do primeiro para o segundo disco, eu havia ido até lá para fazer uma turnê promovida pelo meu selo. Toquei em Berlim, Leipzig, Hamburgo e em Munique, o que foi fantástico. Voltei de lá completamente diferente como músico e pessoa. Você absorve outro tipo de cultura e isso afetou a minha música de modo como eu não esperava. Você evolui dez anos em um mês. 2016 está sendo ainda mais mágico, por causa da repercussão do disco. É gratificante saber que você fez um material composto na cama antes de dormir, que está sendo tocado em vários lugares e as pessoas estão adorando e se identificando. O mais importante é que elas se identifiquem com aquilo.

Pretendo continuar produzindo e lançando material. Estou com material novo e começando a programar o lançamento do próximo disco, que deve sair pelo mesmo selo em dentro de um ano. Em abril [de 2017], eu voltarei à Alemanha para fazer alguns shows e finalizar o disco lá. Talvez eu consiga alguns shows na Polônia, mas ainda está cedo para fechar datas. Quero também continuar divulgando o disco. Você não fica satisfeito e sempre quer mais. Assim que uma meta é cumprida, a gente estabelece logo outra. A gente deve segui-la. É isso.

 

E para finalizar, queremos uma playlist de músicas que te inspiram.

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