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Chet Faker faz show intimista (e cheio) no Rio de Janeiro

chet faker

Um burburinho tomava conta do Sacadura 154, no centro do Rio de Janeiro, na noite do dia 19 de março de 2015. O espaço, bem intimista e totalmente cheio (não há contradição entre esses termos neste caso), iria abrigar o Chet Faker em sua primeira passagem pela terra carioca, com realização da plataforma QUEREMOS! em parceria com a Heineken.

Chet Faker é um músico australiano que tem crescido cada vez mais no cenário eletrônico. Seu primeiro álbum, “Built on Glass”, foi lançado em 2014 e alcançou o top 100 em vários países. Além disso, o cantor tem outros dois EPs, lançados anteriormente: “Thinking in Textures”, de 2012, e “Lockjaw”, de 2013, este último uma parceria dele com o DJ Flume.

É bem interessante constatar que esta não foi a primeira passagem de Chet no Brasil. Por aqui, o artista esteve no evento Converse Rubber Tracks, em São Paulo, no ano passado, e fez sua performance no mesmo dia que o rapper Busta Rhymes. O público ficou dividido entre curtir seu show e conversar durante a apresentação, o que deixou o músico irritado, segundo alguns relatos ouvidos. Não foi o caso da noite da última quinta-feira: o público estava ali todo em função exclusivamente de Chet Faker.

O grande público em torno de uma figura: Chet Faker (Foto: Luciana Lino)

O show, única passagem de Chet no Brasil neste meio-tempo – a América do Sul já fazia parte de sua rota, já que o músico é nome confirmado no Lollapalooza do Chile e da Argentina –, foi anunciado em janeiro e os ingressos se esgotaram em boa proporção de tempo. Isto levou a diversas procuras de mais ingressos dentro do evento do Facebook, com mais de oito mil pessoas confirmadas. Isto explica a ascensão de Faker, grande nome do cenário eletrônico com influência do soul e do R&B, no território brasileiro, pelo menos entre o público mais, digamos, “hype”. E está aí a grande sacada: Chet Faker não é um nome para se tocar, pelo menos por aqui e por enquanto, em grandes festivais, porque sua energia não iria fluir da mesma forma. Sua música oscila entre o sossegado e o agitado, podendo reunir, dentro de uma mesma canção, sua enorme influência de jazz – na realidade, seu nome de batismo é Nicholas James Murphy; “Chet Faker” foi uma homenagem ao jazzista Chet Baker, músico que ouviu ao longo dos anos por intermédio de seu pai – com toques de R&B e ampla presença de sintetizadores. É uma mistura, extremamente favorável e sonora – e, no caso captado pelo artista, tão sensual quanto –, que não se dá apenas pela música eletrônica em si, o que explica a popularização de Faker dentro de um tipo de público diferente do grupo que ouve apenas a música eletrônica voltada para o pop em grandes casas de show.

Vamos ao show?

Foto: Guilherme Espir
Foto: Guilherme Espir

A noite começou às 22h, com uma pré-party comandada pelo DJ Nepal, famoso na cena carioca. O show de Chet Faker estava marcado às 23h, e assim o DJ encerrou sua setlist. Porém, a apresentação foi começar um pouco depois das 23h40min, com várias checagens de som, especialmente da guitarra. Em seus shows recentes, além de cantar e ficar à frente dos sintetizadores, como antes, o músico é acompanhado por uma banda.

Quando entrou no palco, o australiano, na primeira canção, “Cigarettes & Chocolate”, explorou os sintetizadores, sozinho. Nas seguintes, a banda se juntou, horas junto ao sintetizador, horas acompanhando apenas a voz de Faker, que cumprimentou o público na terceira canção, “Melt”. Por outras vezes, Chet voltava a assumir solo. E assim se intercalou durante toda a apresentação, que teve foco nas faixas do álbum “Built on Glass” (foram 9 de 12 tocadas, com pontos altos nas performances, entre outras, de “1998” e “Gold” – que teve até direito à performance exclusiva do público), mas também apresentou músicas de seus outros dois EPs, como as famosas “No Diggity”, “I’m Into You” e “Drop The Game”. “Talk Is Cheap”, do álbum de estúdio, fechou a noite com direito a apresentação no teclado e muitos “backing vocals” e mãos levantadas diretamente da plateia.

Foto: Luciana Lino
Foto: Luciana Lino

Aliás, o público foi outro show à parte: a casa lotou com os presentes bem diversificados – muitos deles homens de barbas tão compridas quanto a de Chet –, que dançavam e faziam coro à performance do australiano. A iluminação foi outro ponto positivo, que se intercalava entre o quente das luzes vermelhas e amarelas e o frio de uma iluminação mais sutil. Combinou exatamente com o equilíbrio das canções do músico, que podem ser mais agitadas, relaxadas, sensuais; tudo separado e tudo ao mesmo tempo.

Outro ponto importante a se destacar é a inegável dedicação que Faker busca levar em todo o conjunto de suas canções. Prova disso é o fato do “Built on Glass” ter sido regravado duas vezes até atingir o nível considerado de perfeição pelo artista. Não é para menos que, em cada faixa, os mais atentos podem perceber o cuidado de Chet em passar sua sensibilidade para quem está o ouvindo. Toda essa junção de fatores resultou em um clima extremamente intimista e agradável; todos ali nutriam a mesma sensação, inclusive o próprio Chet (ou até mesmo o Nicholas James Murphy), que, ao longo do som, se soltou, apresentou a banda e distribuiu sorrisos, “thank you” e “obrigado”, este no final.

Pouco mais de uma hora de show, o australiano se despediu, e a madrugada não parou: o Sacadura 154 ainda tinha fôlego e público para estender um after-party com os DJs Nepal e Yugo. Foi uma ótima noite tanto para quem já admira Chet Faker há um tempo e para quem o conheceu há pouco. Vale destacar a organização do QUEREMOS!, nome conhecidíssimo no meio, quanto ao evento; mais um para entrar em sua história. Fica a espera de que o músico volte numa próxima vez e em mais apresentações espalhadas ao redor do Brasil.

Se você ainda não conhece o trabalho de Chet Faker, fica abaixo a indicação de uma de suas músicas mais famosas, “Gold”:

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